Até 1976, o verdadeiro campeonato estadual de futebol do Rio de Janeiro tinha times e campeões bem diferentes do que conhecemos hoje, quando cada vez mais o Campeonato Fluminense vai caindo no esquecimento.
Até o ano de 1975, o atual estado do Rio de Janeiro era dividido em dois: o Estado da Guanabara, que compreendia a cidade do Rio de Janeiro, e o Estado do Rio, com sua capital em Niterói, que englobava todo o interior que conhecemos hoje. Esta divisão geográfica não era restrita ao setor político-administrativo; também era respeitada no âmbito futebolístico, pois na Guanabara se disputava o Campeonato Carioca, denominação do certame atual (de forma equivocada) e o Campeonato Fluminense, disputado por clubes do estado hoje ‘desaparecido’ e organizado por entidades separadas, a Federação Carioca de Futebol (FCF), e a Federação Fluminense de Desportos (FFD).
O Campeonato do antigo Estado do Rio é pouco lembrado pela imprensa especializada, que insiste em chamar o atual campeonato de “Carioca”, termo referente aos nascidos na antiga Guanabara, ou cidade do Rio de Janeiro, quando o correto seria Fluminense, pois o certame congrega agremiações de várias cidades e não só da capital. Assim, os Campeões Fluminenses do passado, sequer são lembrados nas relações de equipes vencedoras dos campeonatos em publicações especializadas.
Com a proliferação de clubes surgindo por todo o estado, é criada em Niterói, aos sete dias de janeiro de 1925, a Federação Fluminense de Desportos (FFD), Em 1952, o profissionalismo foi oficialmente implantado em todo o estado.
Os clubes do antigo Estado do Rio ainda participaram da Taça Brasil, principal torneio em nível nacional na época e que foi criado, em 1959, em função da obrigação de se ter um campeonato nacional classificatório para a Taça Libertadores da América, no qual participavam os dois primeiros colocados dos campeonatos de todos os países Sul-Americanos.
Nos dias de hoje, a maioria dos clubes que disputavam o antigo campeonato do Estado do Rio deixou de existir profissionalmente, ou se transformaram em clubes amadores, alguns em clubes apenas sociais e outros simplesmente fecharam as suas portas. Vários foram os fatores que motivaram a levaram esses clubes ao ostracismo, sendo o primeiro deles, a fusão da cidade do Rio de Janeiro com o estado, pois muitos clubes não viam vantagem em se filiar a Federação do novo estado, devido maior concorrência e assim, fecharam portas e encerraram suas atividades futebolísticas. Outros como Americano, Rio Branco e Goytacaz, todos da cidade de Campos, deixaram de ser as estrelas principais do Campeonato Fluminense, para virarem meros coadjuvantes na nova realidade.
Outro motivo foi o fato do Campeonato Carioca ter sido o primeiro a ser transmitidos em rede nacional pelo rádio, principal meio de comunicação até a década de 1960, difundindo por todo o país, a paixão pelos clubes do Rio. Não foi diferente no estado vizinho, que paulatinamente tiveram significativa perda de torcedores para os clubes locais, já que estes agora se interessavam mais pelo certame carioca.
O ganho de importância do Campeonato Carioca foi devastador para o Futebol Fluminense, pois além de torcedores, os principais jogadores debandavam para a capital em busca de dinheiro e reconhecimento nacional. Assim, o Campeonato Fluminense foi se desenvolvendo sempre em segundo plano.
Na ocasião da fusão dos Estados do Rio com a Guanabara notou-se tamanha disparidade entre as realidades dos clubes dos dois estados, pois a concorrência fez com que muitos clubes fechassem as portas, como aconteceu com os de Niterói, e outros precisaram se fundir para ter um único clube na cidade, como foram os casos do Volta Redonda e do Friburguense.
Uma boa mostra disso é que desde a fusão, nenhum clube do interior conseguiu uma conquista de maior expressão, com exceção de Americano, em 2002 e Volta Redonda em 2005, que venceram turnos do Campeonato Estadual, mas na grande decisão do título, perderam para o Fluminense em ambas as ocasiões.
E assim, a memória do futebol no Rio de Janeiro vai perdendo uma significativa parte de sua história, que durante décadas alimentou a paixão do povo fluminense pelo esporte bretão, que vai caindo no esquecimento.
PARA SABER MAIS:
OURIVES, Paulo. A História do Futebol Campista. Rio de Janeiro: Cátedra, 1989.
FILHO, Mário. O Negro no Futebol Brasileiro. São Paulo: Mauad, 2003.
ARÊAS, Nilo Terra. Almanaque Esportivo do Jubileu de Ouro do Futebol Campista. São Paulo: Atlas, 1962.
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