Na Usina do Queimado, que hoje integra a área urbana
da cidade de Campos dos Goytacazes, interior fluminense, mas que já foi
considerada zona rural, pois se localiza há três quilômetros do centro, um
grupo de funcionários que sempre se reuniam nas horas de folga para jogarem
futebol, nasceu à idéia de se formar um clube, para se filiar à Liga Campista
de Desportos e assim, a equipe local se fazer presente nos campeonatos
promovidos por essa entidade.
Liderados por Laudelino Batista e Antônio da Silva
Sá, que respectivamente foram os primeiros presidente e vice do clube, procuraram
os irmãos Julião e Inácio Nogueira, proprietários da usina e grandes
admiradores dos esportes em geral, que aprovaram a iniciativa, e não só
autorizaram a criação do time, como também colaboraram em muito para o seu
desenvolvimento.
Em reunião secretariada pelo jornalista e maestro
Prisco de Almeida, ocorrida no pátio da usina, no dia 24 de abril de 1932, data
oficial de fundação do clube, ficou definido que o clube se chamaria Sport Club
Aliança (apesar do mesmo nome, não pode ser confundido com o Aliança Futebol
Clube, o segundo clube fundado na cidade de Campos, em 1912) e as cores foram
inspiradas no ambiente que os cercavam: o verde dos canaviais e o branco do
açúcar.
A primeira partida do Aliança foi disputada no mesmo
dia de sua fundação o adversário foi o Industrial. A partida terminou empatada
em 1 a 1 e aconteceu no antigo campo do Goytacaz, quando o mesmo ainda ficava
no bairro da Lapa.
Contando com um bom complexo esportivo, composto por
dois campos de futebol, quadras de vôlei, basquete e tênis, o Aliança, alcançou
o seu apogeu com apenas cinco anos de existência, quando conquistou o tri-campeonato
campista nos anos de 1937/38/39 e, logo depois, também de forma meteórica,
desapareceu, não chegando a era do futebol profissional de Campos.
Apesar de seus poucos anos de vida, o Aliança foi uma
das forças futebolísticas da cidade em sua época, sendo até difícil de imaginar
como uma equipe vitoriosa e com o suporte de uma empresa como a Usina do
Queimado, na fase áurea da cana de açúcar, tenha desaparecido tão precocemente.
Vários jogadores de destaque tiveram passagem pelo
clube, nomes como: Cláudio, Carbono, Lessa, Vicente, Rebite, Irineu, Evaldo
Freitas, entre outros. Foi também de seus quadros, que saiu o grande jogador
Lelé, titular absoluto do Vasco da Gama, que na década de 40, conquistou vários
títulos, entre eles o campeonato sul americano de 1946 e entrou para a história
conhecido como o “Expresso da Vitória”.
Hoje o local já não apresenta mais as paisagens dos
vastos canaviais de outrora, que perderam espaço para a construção de novos
bairros, em nome do progresso, do desenvolvimento e da ganância dos homens. Mas
o prédio da velha usina, inaugurada em seis de agosto de 1880, ainda permanece
de pé, imponente, apesar de há muito desativado, tendo seu espaço físico usado,
eventualmente, como casa de shows e boate, mas ainda marca na memória de
muitos, que viveram os anos dourados do futebol de Campos, uma época que não
volta mais.
* Fragmento do livro "No País do Futebol, Cidade sem
Memória: A História Futebolística de Campos dos Goytacazes (Agbook, 2010. -
www.agbook.com.br).